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daraopedal

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Caminho de Santiago – 3ª etapa – 17/06/06

07.07.06 | daraopedal
Último dia! Ainda nos restavam sensivelmente 60 km pela frente. A noite tinha sido mal dormida graças à confusão que um grupo de betetistas provocou e também devido a um indivíduo que ficou no beliche ao lado e que ressonava como um comboio. Aliás, os comboios que passavam junto ao albergue não incomodavam tanto quanto ele! Deve ter sido o único que dormiu bem essa noite e continuou a ressonar quando já toda a gente estava de saída… Impressionante! :-)
A manhã estava mais fresca e húmida do que nos dias anteriores e o tempo estaria ventoso e coberto de nuvens sombrias até cerca das 11h. Dirigi-me para o centro de Pontevedra seguindo as vieiras colocadas nos edifícios, o que nem sempre era evidente já que abundam vários cartazes e publicidades nas paredes, impedindo que as vieiras amarelas e fundos azuis se destaquem.

Perguntando ficámos a saber por onde seguia o caminho de Santiago

e uma particularidade curiosa: no centro da cidade existia uma linha com umas luzinhas azuis e uma inscrição em metal colocadas no chão que indicavam o caminho certo.

Passei perto da Igreja da Virxen Peregrina.

Depois de passar o rio Lérez, segui por algumas ruas secundárias calmas (será por ser sábado e ainda não serem oito da manhã?) onde aqui e ali surgiam alguns cruzeiros e obras de cantaria espectaculares que indicavam que estava no caminho certo. Depois, mais adiante, o caminho chega a uma zona verdejante e calma que segue paralela ao caminho-de-ferro. Uma zona muito húmida e muito agradável para pedalar. Mais adiante, cheguei a zonas residenciais onde alternavam caminhos em terra batida, ruelas em cimento e estradas nacionais. Nesta altura, já só conseguia pensar no ritmo sequencial do pedalar e tentava esquecer a dor no rabo depois de dois dias sentado naquele selim… :-( Confesso que comecei a sofrer como um verdadeiro peregrino. Apesar de não gostar muito de pedalar de pé, fiz muitos quilómetros desta forma para evitar colocar o rabo em cima do selim… E isto mesmo tendo usado sempre calções almofadados… A viagem seguiu penosa ao longo da EN 550 até Caldas de Reis e comecei a ressentir-me cada vez mais do cansaço e a acusar a diferença em relação aos outros. Numa longa recta antes de chegar a Caldas de Réis, os meus colegas de viagem distanciaram-se bastante… O desânimo e a fatiga começavam a aparecer… o trajecto não era bonito, nem agradável! Seguir ao longo de uma nacional onde carros e camiões passam a toda a velocidade, enquanto lutas contra o vento frontal e ainda as deslocações de ar que eles provocavam, vendo os teus companheiros a mais de um quilómetros de distância… Nada agradável mesmo! Penso que foi aqui que se revelou o facto de ser a primeira vez que fazia esta peregrinação . Até então, tinha aguentado bem a dureza do percurso, raramente ficava para trás em relação aos outros e apenas tinha sentido algumas dores nas pernas ao fim do 2º dia (isto para não falar das dores naquela parte posterior que desde o 1º dia não todos sentiam). À chegada a Caldas de Reis, estava completamente desgastado… Os outros já me esperavam na ponte sobre rio Umia à entrada
 

 e, logo aí, tive de comer uma “powerbar” e mais um gel para ganhar algum alento. Dirigimo-nos para o centro, passando frente a Igreja de Caldas de Reis,

e, próximo da ponte sobre o rio Bermaña,

voltámos a parar para comprar alguma coisa para comer.

 Pouco depois de Caldas de Reis, cheguei a um percurso espectacular! Talvez a melhor parte de toda a viagem: um trilho “single-track” no meio de uma floresta densa, com desníveis alternados, mas com muitas descidas rápidas.

Muito gozo garantido! Quase que deu para esquecer o cansaço! :-) Eram dez e pouco e ainda faltavam 30km para Santiago!

Toca a colocar uma pedrinha numa dos marcos que indicam o caminho para pedir ajuda a Santiago para conseguir chegar até lá! Passei a concentrar-me apenas em pedalar! Atravessei Ponte Cessures

e pouco depois cheguei a Padrón!

Nova paragem para comprar uns reforços num supermercado e descansar um pouco na praça do centro de Padrón!
Já só queria chegar ao fim… A subida até Teo foi mais uma dificuldade, não pelo percurso em si, mas antes pelo desgaste acumulado! Depois de mais uns quilómetros chega-se ao alto do Milladoiro de onde (finalmente) se consegue avistar Santiago de Compostela e a sua catedral! Tá quase!!!! Descida e travessia da linha de ferro e chegada à zona urbana. Para chegar ao centro ainda foi preciso vencer a subida pela rua junto ao hospital. Uma subida mortal, que só se consegue vencer graças à ansiedade de estar a chegar ao fim. E finalmente, lá estava Santiago! Entrei pela confusão labiríntica das ruas estreitas de traço medieval e pela multidão que circulava de loja em loja.

O relógio marcava 13h20 e o ciclocomputador 66.87 km!

Missão cumprida! Que satisfação… Ufffaaa

Chegou o merecido descanso e um merecido almoço enquanto Portugal jogava contra o Irão. Depois de retemperar forças, fui buscar a “Compostela” que é um certificado do cumprimento da peregrinação, outorgada pelo Secretário Capitular.

Seguiu-se a passagem pela catedral e pelo pilar na sua entrada, onde se cumpre o ritual dos peregrinos (cuja finalidade não percebi muito bem, confesso).

A passagem pelo túmulo do apóstolo foi impossível visto que estava uma multidão à espera e tinha sido decidido regressar de comboio ainda nesse dia. Uns pequenos “recuerdos” comprados à pressa numa loja e toca a seguir (procurar) a estação de comboios! Apanhei um comboio regional espanhol “cinco estrelas” até Vigo (onde as biclas iam super bem acomodadas) onde troquei para uma chocolateira da CP. Aí, as biclas (as nossas e de outros betetistas que tinham chegado no comboio anterior) foram quase umas em cima das outras… A viagem de Vigo até Portugal foi demorada mas as vistas foram boas (Caminha e Viana do Castelo). A chegada ao Porto aconteceu por volta das 22h em Campanhã e depois ainda foi necessário atravessar a cidade de bicla num nocturno imprevisto!
Correu tudo bem! A peregrinação tinha sido cumprida! O esforço e o cansaço tinham valido a pena! Sentia-me bem por ter conseguido! A repetir pró ano? Não sei ainda se será o mesmo percurso ou outro dos caminhos de Santiago, mas certamente que terei de voltar… Ficou o “bichinho”. Até breve Santiago…
PS: Espero que estes relatos sirvam de guia e/ou inspiração para todos os que desejem fazer esta peregrinação e aventura que é a ida a Santiago. Boa sorte e boas pedaladas para todos. Daraopedal

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