Canal du Midi - Dia 1
1ª etapa - Toulouse a Castelnaudary - 76 km
Para quem nunca ouviu falar no "Canal du Midi", trata-se do mais antigo canal artificial da Europa ainda em funcionamento e foi classificado como património da humanidade em 1996. Situa-se na região francesa do Midi (daí o nome) e foi criado no século XVII sob o projeto do arquiteto Pierre-Paul Riquet com vista a ligar por via fluvial o Mediterrâneo ao Atlântico, permitindo o transporte de mercadorias de forma mais rápida, já que evitava contornar a Península Ibérica e a passagem pelo estreito de Gibraltar. A obra foi concluída em 1681 e os seus 240 km ligam a cidade de Toulouse a Sète, no costa mediterrânica. A ligação de Toulouse ao Atlântico faz-se pelo rio Garonne (no Séc. XIX, um canal também viria a ser construído paralelamente ao Garonne, já que a navegabilidade do rio era condicionada pela sua corrente). Essas duas partes viriam a constituir o chamado Canal des deux mers (canal dos dois mares) com 360 km de costa a costa.
Várias condicionantes não permitiam fazer todo este trajeto, mas o canal do midi estava perfeitamente ao alcance devido à distância e à facilidade do terreno. Existe um percurso ciclável ao longo de todo o percurso, já que na altura da sua criação os barcos não tinham motor e moviam-se graças à tração animal de cavalos que puxavam os barcos a partir da margem. Assim, esse caminho usado pelos animais é totalmente ciclável, já que é ora em terra batida, ora alcatroado e transformado em ciclovia. O trajeto foi dividido em 4 etapas para poder fazer o percurso com calma e apreciar também os encantos desta região de França, como as cidades de Toulouse, Carcassonne (cidade medieval património da humanidade) e o Mediterrâneo.
As etapas foram as seguintes:
- Toulouse a Castelnaudary - 76 km
- Castelnaudary a Carcassonne - 44 km
- Carcassonne a Capestang - 90 km
- Capestang a Marseillant Plage - 60 km
Ficam as fotos do primeiro dia:
O ponto de partida foi junto ao "Grand Parc de la Garonne", situado um pouco a norte de Toulouse, já que ficava perto do alojamento.
Seguimos logo a partir daí junto ao "canal lateral de la Garronne"
Uma das primeiras eclusas que encontramos no percurso. Estas viriam a tornar-se uma rotina e são o segredo para o funcionamento do canal, já que permitem controlar o abastecimento em água que faz funcionar o canal e ainda vencer os desníveis do relevo.
Esta parte é feita por uma ciclovia alcatroada.
Chegada ao local onde os dois canais se encontram e onde começa "oficialmente" o Canal do Midi.
O canal do midi contorna o centro da cidade de Toulouse e passa aqui diante da estação de comboios local Toulouse -Marengo. O regresso ao ponto de partida seria feito de comboio, já que as viagens de comboio com bicicletas funcionam de forma exemplar em França.
Uma curiosidade: cada uma das eclusas do canal tem um edifício de apoio que era usado pelo funcionário responsável pelo funcionamento de cada uma. Esta foi transformada numa loja/oficina de bicicleta - Maison du Vélo (casa da bicicleta)
Na fachada de todos estes edifícios, encontramos um painel que indica sempre o nome da eclusa em questão, bem como a distância e nome das eclusas a montante e a jusante.
Um local curioso: a estrada fica abaixo do nível da água do canal.
O canal passa num viaduto aquático por cima de uma via rápida.
Toulouse é também um cidade conhecida por estar ligada à indústria aeroespacial, nomeadamente à Agência Espacial Europeia...
... e à contrutora de aviões Airbus. Passamos junto a essas instalações.
Começamos a encontrar as famosas "peniches", barcos longos e baixos usados nos principais rios de França para o transporte fluvial de mercadorias. Muitas foram transformadas encontram-se permanentemente ancoradas servindo de residência sobre a água.
O canal é um local tão especial que até é usado para as fotos de noivos.
Um casa da eclusa transformada em café/restaurante à beira do canal.
O percurso está ladeado de frondosos plátanos que são a imagem de marca do percurso. São árvores centenárias plantadas na altura da contrução do canal, como forma de fixar as margens e protegê-las da erosão. No entanto, estas estão em perigo. Com efeito, de há uns anos para cá, verificou-se que as árvores começaram pouco a pouco a morrer. Foi descoberto que a causa era de um fungo que se propagava de árvore para árvore, causando a morte num período de 2 a 5 anos. O pior é que não há cura contra esse mal que coloca em perigo a paisagem natural do canal e a única forma de fazer alguma coisa é a prevenção, cortando as árvores infectadas, e queimando-as para que o fungo seja destruído. Há também várias medidas para replantar as árvores que se perderam. As zonas infetadas estão assinaladas e algumas estão mesmo interditas à passagem visto que o fungo pode ser propagado pelo contactos no calçado e/ou pneus. Isto também acabou por ser um contratempo numa das etapas já que nos obrigou a afastar do trilho e a perder alguns pontos de interesse.
Paisagem património da humanidade.
O curso do canal a passar sobre um ribeiro com uma ponte para o efeito.
As pontes mais antigas que atravessam o canal são por norma estreitas e só permitem a passagem de um carro.
Uma grande parte das eclusas estão mecanizadas, mas não automatizadas. Requerem a presença de uma pessoa para controlar o mecanismo de abertura/fecho das portas e conta com sinalização para os outros barcos.
Percurso ciclável do Canal do Midi.
A minha Precious junto a uma das eclusas.
Uma estranha instalação artística com bicicletas no meio do prado.
A circulação automóvel é proibida ao longo do canal, exceto para o pessoal técnico do canal e para os moradores.
Bora para um passeio a pedal?
Um verdadeiro postal.
A bicicleta com os alforges.
Um pequeno desvio do canal para apreciar o ribeiro que serve de abastecimento de água no ponto mais alto do canal. As águas são canalizadas nos montes circundantes para serem levadas até ao canal, dividindo-se para o lado do Mediterrâneo e para o Atlântico.
Um local com várias eclusas seguidas. É curioso ver os engarrafamentos de barcos que ocorrem nestes locais. O canal é agora principalmente usado para fins turísticos e é possível alugar embarcações pequenas (com cozinha e quarto) para passar uns dias de férias ao longo do canal.
Um dos barcos que mais se vêem ao longo do canal.
Outros cicloturistas que encontramos nessa etapa. Refira-se que nos arredores de Toulouse, encontrámos muita gente a usufruir do canal, correndo, caminhando e pedalando, mas depois de abandonarmos os arredores da cidade, o percurso era praticamente em solitário.
Esperando que o tanque da eclusa encha.
O plátano a ganhar ao sinal de trânsito proibido.
Chegamos ao fim da tarde ao grande canal de Castelnaudary onde demos por terminada a etapa do dia. Por sorte chegamos mesmo a tempo de evitar uma trovoada que nos teria encharcado em poucos minutos. Castelnaudary é uma pequena vila que é principalmente conhecida por ser a "capital" do Cassoulet, uma espécie de feijoada francesa.
O total de quilómetros do dia.
Tempo de pedalada
clica na imagem para mudar de etapa